Em maio de 1997 foi privatizada a Companhia Vale do Rio Doce. Daí, você talvez se pergunte: ainda que em um espaço de historiadores, por que cargas d’água essa pessoa está se remetendo a um episódio de mais de 20 anos para justificar um voto nos dias de hoje? Bem, você sabe, estamos em um espaço de historiadores. E historiador do campo das memórias que sou, não posso ignorar minhas lembranças de adolescente presente nos protestos que varreram o país meses antes dessa mais que controversa venda. Lembro-me de correria ao som de tiros, e as balas não eram de borracha. Lembro da guarda montada em ação, e não era para uma exibição de gala.
Para um adolescente por volta de seus 15 anos, já apaixonado por História, impossível não fazer uma associação com as figuras e fotografias que ornavam meus livros didáticos contraponto “abaixo à ditadura” com atos de violência dos militares. Essa acidental aula de campo serviu para me mostrar que nossa democracia era débil. Cortar as superfícies de certas árvores não fariam desaparecer suas raízes sólidas e invisibilizadas. Se meu medo, passado e atual, dessas raízes romperem as barreiras da civilidade e da hipocrisia era justificado, imagine para aqueles que foram, e até hoje continuam sendo, torturados ou viram suas pessoas queridas serem vitimadas pelo Estado?
À medida que fui me formando como historiador, o fantasma da nossa fragilidade democrática mais me chamava atenção. Inicialmente, com movimentos silenciosos de pantomima. Mas estes foram evoluindo para o aterrorizante e ensurdecedor berro das armas da atuação policial nas favelas e espaços de moradia popular que se tornaram o motivo da minha escrita da História. Mas ainda assim, jamais imaginaria que chegaríamos ao dia 28 de outubro de 2018. Neste dia, o restolho autoritário dos milicos golpistas de 1964 venceu. Os criminosos alimentados no seio do Estado, formadores de grupos de extermínio e suas variantes históricas, como as atuais milícias, venceram. Racistas, homofóbicos, misóginos e outras bizarrices que se fizeram carne venceram. Venceram, mas não vencerão desta vez.
Contra a vontade, serão retornados para a lata de lixo da História, com o auxílio da força do voto. Por isso cravarei 13. Ainda não chegou o dia em que eles serão punidos pela ditadura de 1964, mas responderão, na figura de seu vergonhoso admirador e atual usuário da faixa presidencial, pela tragédia de quase 700 mil mortos que amaldiçoou o país. Por isso cravarei 13. Responderão pelas 33 milhões de brasileiras e brasileiros ameaçadas pela fome. Por isso cravarei 13.
Cada aldeia indígena dizimada, cada mulher, homossexual e pessoa negra vitimizada pela violência, por elas e por todas as outras cravarei meu 13. Porque elas representam a esperança, a única que pode fortalecer nossa já tão combalida democracia para que esta possa, por sua vez, protegê-las. É exatamente isso, não existe vida em sociedade sem reciprocidade, fortalecimento mútuo. O fortalecimento do outro leva à minha proteção e vice-versa. Para a democracia nos proteger, precisamos fortalecê-la. Por isso te convido: vamos votar 13? Com meu maior e mais empático sorriso te darei boas-vindas, afinal, somos tantos e seremos ainda mais a demonstrar nossa força.
Mauro Amoroso é professor associado da FEBF/UERJ e atual presidente da ANPUH-RJ.
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