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FÁBIO FAVERSANI | COMO VOTA A COMUNIDADE HISTORIADORA?

Qual concepção de sociedade brasileira sairá vitoriosa?


Fábio Faversani, Professor de História Antiga, da Universidade Federal de Ouro Preto.


O segundo turno da eleição de 2022 coloca em confronto duas visões muito distintas de país. Elas não podem ser resumidas com precisão pelas concepções de esquerda e direita. Muito menos, trata-se de um embate para implementar o socialismo no Brasil a partir da eleição de Lula e Alckmin (?). Quem dera!


O que se tem é o tensionamento entre duas concepções de sociedade em luta ao longo de todo o processo de construção de nossa Nação. De um lado os beneficiários de uma história longa, complexa e multifacetada de desigualdades, injustiças e opressões, lutando para normalizar e legitimar essa desigualdade e a violência que ela comporta e a partir da qual se sustenta. De outro lado, não apenas os excluídos e humilhados, mas também aqueles que não percebem a possibilidade de existir um país com tal nível de desigualdades, injustiças e iniquidades.


De um lado, parte dos setores privilegiados querem e apoiam a preservação dessa longa história de opressões e querem ver preservados e ressaltados seus privilégios. Isso inclui o ódio e a exclusão como base do convívio social. Para essa parte da sociedade, é insuportável a ideia de que a sociedade não seja cingida e é dado como algo natural que uma parte dela seja vista e tratada como inferior, alijada de direitos e cuja integridade, e até a própria existência, pode ser violada. Para manter uma sociedade tão desigual e iníqua, é necessário legitimar a desigualdade com base no exercício cotidiano dos piores preconceitos e ampliar o uso da violência, além de desrespeitar e desmontar sistematicamente as instituições que possam preservar direitos e promover inclusão. Nessa via, a democracia não é só indesejável, é inviável.


De outro lado, há uma concepção que a democracia é uma conquista ainda incompleta, cheia de imperfeições, mas é bastante melhor do que qualquer alternativa autoritária. Nessa perspectiva, para citar dois exemplos, de uma parte a fome e a pobreza são intoleráveis e a ampliação do acesso à educação e melhoria da qualidade é um aspecto central para que vastos setores da sociedade possam ser incluídos e sigam sonham com a possibilidade de mobilidade social, gerando não apenas oportunidades para os mais pobres, mas uma sociedade melhor para todos. De outro lado, qualquer forma de auxílio para a população mais pobre é vista como esmola ou dar dinheiro para vagabundos que ficarão à toa e mamando no Estado, pois não servem para mais nada (“título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso”). Do mesmo modo, a educação pública de qualidade, que leva as pessoas a serem incluídas e ter consciência de seus direitos é doutrinação, despesa sem sentido, coisa de comunistas, promotores de ideologia de gênero etc.


A eleição não coloca em confronto dois programas de governo, mas duas concepções de sociedade brasileira bastante grosseiras e, ainda assim, muito claramente distintas. Considerado isso, é ao mesmo tempo muito fácil e muito importante a decisão de voto nesse segundo turno: votarei em Lula. Voto em Lula porque é central derrotar as forças sociais antidemocráticas e que entendem que a exclusão e a violência permanente e em diversos níveis contra esses excluídos são a base indispensável para a Nação brasileira, como base para a reafirmação de seu lugar de privilégios historicamente construídos. Precisamos dessa vitória eleitoral como “nunca antes na história desse país”, mesmo compreendendo que, como ficou claro nos anos precedentes, isso não signifique que as forças do atraso e os ímpetos autoritários serão superados. Precisamos mudar o governo, mas o fundamental mesmo é transformar a sociedade que nos trouxe até esse momento terrível. Essa é a luta que devemos perceber, de uma vez por todas, que não podemos abdicar jamais por achar que ganhamos.


Venceremos (nas urnas e nas ruas)!


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