A Faces da História anuncia a chamada para a submissão de artigos para o dossiê Dez anos das Jornadas de Junho de 2013 e as crises políticas no Brasil republicano, a qual se encerra no dia 10 de julho de 2023. O dossiê é organizado por Diego Paulo (pós-doutorando em História – UNIRIO), Gabriel Kanaan (doutorando em História – UFF) e Lisia Cariello (doutoranda em História – UFF).
No dia 6 de junho de 2013, uma manifestação convocada pelo Movimento Passe Livre repercutiu em São Paulo as vitórias recentemente alcançadas em Florianópolis e Salvador. Nessas cidades, o aumento da tarifa dos transportes públicos pôde ser contido por luta liderada pelo movimento social. Tiveram início, assim, as Jornadas de Junho – conjunto de manifestações que lutavam por transporte, saúde e educação que se espalharam pelo país ao longo daquele mês, expressando contradições que se desenvolviam com o petismo à frente do Governo Federal. Desde muito cedo, o processo despertou enorme interesse entre os pesquisadores das ciências humanas, sendo laboratório para investigações acerca dos problemas da urbanização, das políticas sociais, da crise capitalista e do esgotamento de uma era de pactos sociais, vigente desde o triunfo do dito “lulismo” nos anos 2000. Dez anos depois, convém realizar balanço sistemático das reflexões sobre esse evento-chave da História do Brasil recente. O dossiê convida, assim, trabalhos que discutam as questões acima à luz de Junho de 2013 e seus impactos, incluindo pesquisas que estabeleçam as Jornadas como o marco inicial de uma crise política que ainda não foi superada.
Partindo do conceito gramsciano de crise de hegemonia, entendemos que crises políticas, tanto em 2013 como em outros momentos, manifestam o esgotamento da forma de dominação operante, o que abre espaço para a projeção de futuros sociais alternativos, mas também para a reafirmação da ordem vigente, inclusive de modo violento. Assim, estudos desse processo em outros períodos históricos do Brasil republicano parecem ter interesse indiscutível à luz dos problemas enfrentados no Brasil de hoje. Por isso, a fim de aprofundar o debate sobre o conceito de crise, o dossiê também recebe trabalhos que se debrucem sobre outras crises políticas na história do Brasil republicano. Além disso, reservar espaço para debater esse problema em outras conjunturas serve, ainda, aos propósitos da historiadora e do historiador interessados na produção de novas sínteses sobre a história brasileira, escassas em época de prolongado predomínio dos estudos particularizantes.
Referências mencionadas:
BIANCHI, Álvaro. Revolução passiva e crise de hegemonia no Brasil contemporâneo. Revista Outubro, n° 28, 2017.
BRAGA, Ruy. Sob a sombra do precariado. In: BRAGA, Ruy. Cidades Rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, p. 79–82, 2013.
DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis: Vozes, 1981.
FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. Curitiba: Contracorrente, 2020.
FONTES, Virgínia. Brasil e o capital-imperialismo. Teoria e História. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.
FONTES, Virgínia. Capitalismo, crises e conjuntura. Revista Serviço Social & Sociedade, n° 130, 2017.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, volume 3 – Maquiavel: notas sobre o Estado e a política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo Boitempo, 2011.
MATTOS, Marcelo Badaró. Governo Bolsonaro: neofascismo e autocracia burguesa no Brasil. São Paulo: Usina Editorial, 2020.
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